Fim dos motores de combustão? Exagero!
A célebre frase “parece-me que as notícias sobre a minha
morte são manifestamente exageradas” dita por Mark Twain quando percebeu que o
davam como morto antes de ser enterrado, serve-me perfeitamente para dizer que
as notícias sobre o fim do motor de combustão interna são, manifestamente,
exageradas. Eu sei que por ai andam muitos defensores das formas alternativas
de mobilidade – nome bonito para os modelos com motorização elétrica – que querem
salvar todos os ursos polares e evitar que sejamos todos inundados pelo gelo
polar. Também sei que há muito político que reage a temas fraturantes como as
mulheres histéricas, gritam e tomam decisões avulsas para aplacar a sua
inquietação histriónica.
Acredito que tudo seria resolvido como nos bons velhos
tempos: uma bela chapada nas fuças acabava com o histerismo e com estas
decisões avulsas e sem sentido que, todas elas, têm o efeito de satisfazer a
clientela e sossegar o povo, mesmo que tenham escondidas alguns alçapões para
que possam fugir à palavra dada.
Enfim, como disse Mark Twain, as notícias sobre o fim dos
motores de combustão interna são, mesmo, exageradas. E os anúncios que surgem
em catadupa sobre a proibição dos motores de combustão interna, especialmente,
os diesel, são uma mentira pegada dos políticos. Perante esta pressão, uma
pergunta assalta-me sempre: durante quanto tempo vão existir motores de
combustão interna? A resposta é simples: muito, muito tempo!
Quando se anuncia com pompa e circunstância que “não serão
permitidos veículos com motores de combustão interna a partir de 2040” ou que “marca
X vai só vai produzir veículos elétricos a partir de 2020” ou ainda “acabar com
os motores de combustão interna nas cidades”, não se está a dizer a verdade
toda. O que todos devemos ler – e que os políticos leem, mas não dizem ao povo,
só aos interessados – é “não serão permitidos, apenas, motores de combustão
interna a partir de 2040” e “acabar com os veículos equipados, apenas, com
motores de combustão interna”. A partir de 2020 ou mais tarde, a maioria dos veículos
será híbrida, seja um HEV (híbrido puro), PHEV (híbrido com carregamento exterior
da bateria) ou MHEV (os pequenos híbridos com a tecnologia 48 volts).
Esta minha leitura baseia-se na tranquilidade que a
indústria tem vindo a demonstrar perante estes anúncios espúrios que não conta
tudo sobre o futuro.
Marcas houve que se ajoelharam perante a pressão política,
mas sempre porque tinham um telhado ou uma claraboia de vidro. Para o grupo
Volkswagen, a saída do “DieselGate” era impossível se não virasse a agulha rumo
aos veículos elétricos. Depois de enganar os americanos e o mundo, aparecer
como os salvadores da humanidade e dos ursos polares era a única forma de atapetar
o caminho para uma saída airosa. Já há gama e até protótipos funcionais, mas alguém
viu a gama completa? Pronta a ser comercializada? O grupo VW diminuiu o
investimento em pesquisa e desenvolvimento, mas em alguma altura deixou de
desenvolver os seus motores de combustão interna? A resposta a todas estas
perguntas é “NÃO” até porque o objetivo principal está conseguido. A memória é
curta e já ninguém se lembra do “DieselGate”, hipnotizados que estão, todos,
pela fabulosa gama elétrica da VW e de outras marcas de topo.
Contas feitas, em 2030, os veículos equipados com um motor
de combustão interna sozinho ou como parte de um sistema híbrido, serão cerca
de 70 a 80 por cento das vendas. Quanto aos motores diesel, a sua extinção também
é uma notícia exagerada. Não por acaso, o Salão de Genebra que está a decorrer
não estava enxameado de modelos elétricos e, por outro lado, há quem esteja a
preparar modelos híbridos com motores de combustão interna com ciclo Diesel.
Porquê? Porque sem os motores diesel, as emissões de CO2 serão impossíveis de
controlar e tem de haver um necessário equilíbrio para evitar uma escalada das
emissões de CO2.
Portanto, quando alguém diz que os motores térmicos ou de
combustão interna têm os dias contados, está a laborar num disparate de todo o
tamanho. O que vai mudar, muito, é a forma como estes motores vão ser usados na
companhia da eletricidade. Sim, os automóveis elétricos são uma realidade e vão
estar disponíveis modelos excitantes e altamente eficientes, mas não serão, tão
cedo, a única forma de mobilidade. Independentemente de se saber que a produção
de energia elétrica terá de passar por uma reformulação para evitar que o pico
de exigência de eletricidade para a mobilidade terrestre carregue o planeta de
mais poluição.
A junção da eletricidade aos motores de combustão interna,
sejam de ciclo Otto sejam de ciclo Diesel, será a forma mais acertada de
controlar a poluição e preparar o futuro. Que, pelo que se vai observando,
apesar do histerismo dos políticos e da demagogia dos defensores do ambiente –
alguns deles fazem como Frei Tomás, “faz aquilo que ele diz e não o que ele faz”
– será bem diferente do que muitos hoje tentam adivinhar.
O tempo dos Eagle do Espaço 1999 já lá vai e continuamos sem
colonizar a Lua, continuamos sem viagens de turismo ao satélite da terra, não
viajamos pelo espaço e continuamos a depender de algumas coisas descobertas no
passado para conseguir sobreviver. A tecnologia avança e hoje fazemos muitas
coisas que há 20 anos seriam impossíveis, mas a completa e exclusiva
eletrificação não será alcançada tão depressa e a condução autónoma continuará
a ser um “gadget”. Não acreditam? Um estudo recente feito nos EUA diz que 90
por cento das pessoas não quer deixar o controlo do seu carro a um computador,
mas 95 por cento está disposto a pagar para ter a condução autónoma no seu
carro. Sabem o que se chama a isto? Vaidade! É como os extras que se colocam no
carro: servem para dizer que os temos pois na realidade, é como as compras
feitas por impulso “isto é capaz de fazer falta” e acaba numa prateleira
abandonado. Porque não servia para rigorosamente nada.
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