quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Regresso de Kubica: sonho ou pesadelo?


A minha avó Alice era uma senhora lindíssima, adorável, e muito sábia e um dia, ainda andava eu de calções a namoriscar miúdas que queriam era brincar com Nenucos, disse-me que “nunca devemos voltar onde fomos felizes”. Imaginando a minha cara de parvo a tentar perceber onde ela queria chegar, perguntei “o quê vó?. Disse-me ela com aquela bondade infinita naquele rosto com divina iluminação “nunca devemos voltar a fazer alguma coisa que nos deu prazer e sucesso, mas deoiis correu mal”.

Claro que encolhi os ombros, voltei á minha preocupação com as borbulhas na cara e ao intricado puzzle de Lego que tinha á minha frente. Nunca mais pensei nisso até há um tempo, quando voltei ao lugar onde tinha sido feliz. Mas essa é uma história que não cabe aqui. Dizia, então, que a minha avó Alice me disse aquela frase há muito, muitos anos e repesquei-a hoje para lembrar Robert Kubica e o seu putativo regresso á Fórmula 1.

Remexendo na poeira das lembranças, recordo que o piloto polaco (o primeiro e até agora único piloto vindo daquele pais a chegar à F1) nascido em 1984 chegou á disciplina máxima do desporto automóvel pela porta da Sauber-BMW, depois de se ter destacado na World Series by Renault. Foi campeão dessa disciplina e prometia muito. Tanto que venceu o seu primeiro (e até agora único) Grande Prémio no Canadá, reclamando para si o título de primeiro polaco a vencer na F1. E, até hoje, único!

A verdade é que a promessa nunca se cumpriu e Robert Kubica acabou por se deixar seduzir pelos ralis (tal como sucedeu a um certo Kimi Raikkonen) acabando a sua juventude irreverente por o penalizar duramente com um despiste quando estava ao volante do seu Skoda Fabia S2000. Tudo aconteceu no dia 6 de fevereiro de 2010, no Rali Ronde de Andorra quando perdeu o controlo do Fabia e um “rail” entrou pelo carro adentro quase decepando, pelo caminho, o braço direito ao piloto polaco. Já no leito do hospital deu uma entrevista à Gazetta dello Sport dizendo que iria regressar aos comandos de um F1 no ano seguinte, desconhecedor pleno dos danos que o acidente tinha causado.
Claro que não regressou à Fórmula 1, testou carros do DTM, do Le Mans Series, do WEC (chegou mesmo a estar inscrito pela ByKolles), enfim, fez de tudo para não ser esquecido tendo, pelo caminho, atrasado a sua progressão com um queda à porta de casa que lhe partiu uma perna. Ficou afastado das corridas durante um ano inteiro.

Desde o acidente fica na retina o título WRC2, na estreia da competição em 2013, com um Citroen DS3. O patrocínio da Lotos, a petrolífera da Polónia, estendeu-lhe a passadeira vermelha até à M-Sport e a um Ford Fiesta WRC. Andaram de mãos dadas prestações brilhantes com pancadas violentas, mas terminou o ano com a vitória no Monza Rally Show, batendo Valentino Rossi. Exaurido o patrocínio da Lotos, Kubica saiu dos ralis. Mas não deixou de tentar regressar á competição.

Após testes e mais testes – chegou, também, a testar um Fórmula E, mas as coisas não correram de feição – eis que Robert Kubica emergiu como possibilidade de ocupar uma vaga na Renault. Voltou a fazer testes – recrudesceram as esperanças dos seus adeptos com longas alvissaras sobre as suas qualidades – e Cyril Abiteboul, responsável da Renault F1, teceu-lhe elogios dizendo “ele continua rápido, continua consistente e, mais importante, continua com o entusiasmo do primeiro dia”, espalhando-se mais ainda ao dizer que “não via nenhum impedimento para que ele regressasse em 2018, sendo uma opção para 2018.”

Abiteboul perdeu uma belíssima ocasião para estar calado, pois agitou a água parada da carreira de Kubica e, na primeira oportunidade (chamada Carlos Sainz), marimbou-se no polaco e caiu nos braços de um espanhol vindo da Red Bull por empréstimo.

Parecia que, agora sim, as chances de Kubica tinham-se reduzido a poeira. Quiça com sete vidas como os gatos, Kubica surge ligado à Williams e está, agora, a caminho, dizem, de ser piloto da Williams-Mercedes em 2018. Mas, um piloto que em 2013 esteve no simulador da Mercedes horas a fio, mostrou progressos e velocidade, mas a quem foi dito que as limitações de mobilidade do braço seriam impossíveis de ser mitigadas quando dentro do habitáculo do Mercedes, no Mónaco, por exemplo, está melhor?

Será mesmo verdade que, fisicamente, Robert Kubica está melhor do que quando saiu devido ao acidente?! Como é isso possível com o braço da maneira que todos podem ver? Aconteceu um milagre? Não sei e como não sou médico, reduzo-me á minha pequenez neste capítulo. Mas o senso comum deixa-me sérias dúvidas sobre isso. Mas, o putativo regresso de Kubica à F.1 pode estar condenado ao fracasso não só por essa via. Sabiam que Alain Jones, Karl Wendlinger, Michael Schumacher, Graham Hill e Niki Lauda, tentaram regressar á F.1 depois de acidentes ou de ausências e só um conseguiu ter sucesso?

Alan Jones foi campeão em 1980 e no final de 1981 retirou.se, depois de um ano mediano. Repensou a reforma e estava de volta á competição em 1983 fazendo uma perninha com a Arrows. Insistiu e entrou para a formação de Carl Haas, a Beatrice Lola. A coisa correu muito mal, o financiamento acabou, a equipa desmembrou-se e Jones saiu da F1 pela porta pequena.

Mika Hakkinen sofreu um acidente horrível na última corrida de 1995 e ganhou dois títulos depois desse acidente, mas só esteve afastado das corridas uma prova. Depois fez um ano sabático em 2006 e quando tentou regressar, percebeu que o comboio já tinha passado.

Kimi Raikkonen foi campeão em 2007, saiu em 2009 depois de ter ganho apenas uma corrida nesse ano, foi experimentar os ralis, esteve na Nascar (fez uma corrida ds Truck Series) e regressou á F1 dois anos depois e tem sido um deserto de vitórias e campeonatos.

Juan Pablo Montoya regressou à IndyCar Series 18 anos depois para vencer a grade corrida americana, mas nunca perdeu atividade tendo passado pela F1 e pela Nascar.

Striling Moss sofreu um terrível acidente em 1960 no GP da Bélgica, regressou uns meses depois, mas já não era o mesmo e acabou por sair da F1 em 1962 depois de novo violento acidente.

Graham Hill já estava no seu 12º ano de Fórmula 1 quando teve um violento acidente em 1969 no circuito de Watkins Glen. Antes tinha ganho de forma brilhante o GP do Mónaco, ele que tinha nascido no mesmo ano de Mike Hawthorn, que já se tinha retirado em 1958, não se resignou e regressou á competição cinco meses depois do acidente. Foi no GP da África do Sul de 1970, mas ficou evidente que o seu instinto vencedor se tinha perdido e ao invés de lutar pela vitória, limitou-se a chegar ao final no sexto lugar. Nunca mais foi o mesmo piloto e a F1 acabou pouco tempo depois.

Niki Lauda foi o único piloto que regressou depois de um violento acidente e depois de uma primeira retirada, a ter sucesso. E mesmo assim, o titulo alcançado em 1984 face a Alain Prost caiu-lhe no colo por meio ponto (o GP do Mónaco devido á intempérie não chegou ao final e só foram atribuídos metade dos pontos). Mas durante a temporada, valeu-lhe a regularidade e o tal meio ponto, pois Prost foi sempre mais rápido que o austríaco.

Portanto, olhando à historia, a minha avó Alice tem toda a razão e dificilmente Robert Kubica será suficientemente competitivo fora dos testes. Acredito, piamente, que os médicos possam ter feito um pequeno milagre, mas não acredito que tenham feito um braço novo. Como não acredito que depois de tantos anos fora da F1 consiga ser candidato a vencer alguma coisa.

A Williams pode arriscar muito com esta contratação, mas pode, também, empochar algum dinheiro que o polaco leve consigo.

Posso estar muito enganado, mas Kubica não regressará ao esplendor de outrora nem a Williams lhe poderá dar um carro competitivo que consiga “esconder” as dificuldades físicas. 

Que querem, sou cético!

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